domingo, 9 de agosto de 2009

LONGA VIDA AOS BONECOS

Domingo, 09/08/2009

Fotos: Albari Rosa/Gazeta do Povo

Fotos: Albari Rosa/Gazeta do Povo / Marcelo Santos, Tadica Veiga, Jorge Miyashiro,  Luiz Reikdal, Joelson Cruz, Renato Perré, Olga Romero e Tina de Souza: artistas unem esforços para garantir a continuidade do teatro de bonecos paranaense Marcelo Santos, Tadica Veiga, Jorge Miyashiro, Luiz Reikdal, Joelson Cruz, Renato Perré, Olga Romero e Tina de Souza: artistas unem esforços para garantir a continuidade do teatro de bonecos paranaense
Teatro

Longa vida aos bonecos

Bonequeiros chamam atenção para a valorização de sua arte, apreensivos pela crise que quase cancelou o Festival Espetacular

Publicado em 09/08/2009 | Luciana Romagnolli

A arte bonequeira merece posição destacada na programação infantil e adulta dos principais festivais internacionais de teatro do país.Em Minas Gerais, por exemplo, tão forte quanto o FIT BH, bienal, é o Festival Inter­na­cional de Bo­­necos, repetido a cada ano desde 2000.

Enquanto isso, Curitiba sedia um encontro ainda mais tradicional. O Festival Espetacular de Teatro de Bonecos tem atraído as mais va­­ri­­adas formas animadas à cidade há quase duas décadas. Neste ano, contudo, por pouco não acon­­teceu.

Sesi Bonecos termina em Brasília

O circuito de festivais brasileiros específicos de teatro de bonecos é amplo. Em junho, por exemplo, acontecem as mostras internacionais de Belo Horizonte, em Minas Gerais, e a de Canela, no Rio Grande do Sul. Em julho é a vez dos bonequeiros migrarem para Curitiba, atraídos pelo Festival Espetacular. Agora em agosto as atenções se voltam à Brasília, o primeiro ponto de parada do 7º Sesi Bonecos do Mundo. Um festival itinerante bastante expressivo na cena nacional, e que, ainda neste ano, vai aportar em cidades como Palmas, Goiânia, Campo Grande e Cuiabá.

Representantes

A edição do Sesi Bonecos em Brasília foi iniciada na terça-feira passada e se encerra hoje, quando acontecem nove apresentações gratuitas de espetáculos brasileiros e estrangeiros na capital do país.

Entre as atrações convidadas pela mostra, desta vez, estão os chineses da companhia de teatro de sombras Tangshan Chinese Shadow Puppet, melhores do mundo na técnica originada nos tempos da Dinastia Ming. E mais o norte-americano Phillip Huber, da The Huber Marionettes; e a companhia de Jordi Bertrán, que marcaram passagem por Curitiba no passado.

A produção brasileira é representada por grupos de relevo, como o paulista XPTO, em atividade há 25 anos, e o mineiro Giramundo.

Serviço

Na internet: www.sesibonecos.com.br/2009

 / Perré, presidente da Associação Brasileira de Teatro de Bonecos (ABTA) Ampliar imagem

Perré, presidente da Associação Brasileira de Teatro de Bonecos (ABTA)

Abalados ainda pela incerteza que rondou a última edição, realizada de modo independente em julho, os artistas estão unindo forças. Oito deles se en­­­contraram com a reportagem da Gazeta do Povo, durante a semana passada, em frente ao Teatro Guaíra, trazendo nas mochilas as criaturas pelas quais batalham. O discurso, uníssono, pe­­­de a valorização do teatro de bonecos paranaense, que anda carente de apoio.

Renato Perré, presidente da Associação Brasileira de Teatro de Bonecos (ABTA), e Joelson Cruz, que ocupa o cargo correspondente no núcleo estadual (APRTB), encabeçam a campanha para que o Festival Espe­­tacular passe a integrar o calendário oficial da cidade e do estado, com orçamento previsto.

Até o fim dos anos 1980, Curi­­tiba abrigava um festival de bone­­cos de amplitude nacional, promovido pela ABTA. Desde 1991, a Associação Paranaense passou a organizar o Festival Espetacular de Teatro de Bonecos. O novo evento expandiu a programação atraindo não somente paranaenses e brasileiros, mas estrangeiros de renome.

Nas edições inaugurais, ficou restrito aos participantes do sul do país. Em 1993, já tinha como convidados espetáculos argentinos e chilenos. A prospecção se ampliou gradualmente, trazendo expoentes internacionais como o especialista catalão em bonecos de fio Jordi Bertrán e o americano The Huber Mario­­net­­tes (visto no filme Quero Ser John Malkovich). Nos últimos anos, a participação de estrangeiros di­­minuiu até cessar.

Aquém

O festival é financiado pela Lei Rouanet. O orçamento proposto gira em torno dos R$ 500 mil, mas a captação final fica aquém todo ano. A responsabilidade pela proposição e arrecadação está a cargo do Centro Cultural Teatro Guaíra.

Em edições anteriores, segundo a produtora do Teatro Guaíra, Bia Reiner, a Secretaria Estadual da Cultura, à qual o teatro é vinculado, investiu diretamente para aumentar os recursos disponíveis para a realização do festival – sem alcançar, porém, o valor inicial orçado.

A aprovação pela lei nacional veio como de costume este ano. O processo, no entanto, emperrou na arrecadação de recursos com as empresas privadas. “O Guaíra nos avisou que não havia captado nada em maio”, diz Perré. Não havia mais tempo hábil para firmar alternativas de patrocínio.

Segundo Reiner, os patrocinadores frequentes (como a Peró­­xido do Brasil, a Sal Diana, e a Munters do Brasil, que custearam no ano passado) se retiraram com a justificativa da crise. O Guaíra reagiu com uma proposta de redução do evento, que seria financiado por dinheiro cortado do Teatro para o Povo e recebido de locações do espaço para formaturas. “Era uma quantia pequena”, afirma a produtora, sem revelar o valor.

Perré fala em R$ 50 mil, sendo que R$ 8 mil seriam destinados aos artistas locais. “Era uma versão reduzida demais que privilegiava quem vinha de fora”, analisa o presidente da ABTA. A ne­­gociação não avançou.

“Diante disso, resolvemos fazer uma edição especial com a garra dos bonequeiros, sem cachê”, conta Perré. “Fizemos mais de 30 apresentações, o Guaíra cedeu os espaços, mas não forneceu equipe nem equipamento.”

Com a saída de improviso, a tradição não foi interrompida, mas os bonequeiros continuam apreensivos. Comparam com a realidade de Belo Horizonte, onde o evento de animação segue vistoso: “O festival de Curi­­tiba foi o primeiro, mas fi­­cou sem fôlego. Em Minas Gerais, a captação com o empresariado é feita via lei estadual também. Nós não temos lei estadual de incentivo à cultura”, diz Perré.

A preocupação do grupo não se restringe ao futuro do festival. Respinga sobre toda a atividade. “Piorou muito a situação para o teatro de bonecos nesta gestão do governo estadual, o contexto é de declínio geral”, diz o presidente da ABTA. Em reação, os bonequeiros criaram um abaixo-assinado para garantir a continuidade do evento e o desenvolvimento da arte.

A produção do Guaíra informa estar tomando providências para o próximo ano. “Estou tentando a parceria da Pe­­trobras. Somos o único festival não apoiado”, diz Reiner, que também vem recorrendo a editais como o da Caixa e da Fu­­narte.

O movimento bonequeiro busca apoio também da Funda­­ção Cultural de Curitiba. Os artistas pleiteiam ainda a criação de incentivos específicos para o teatro do gênero. Na quinta-feira, a FCC divulgou o lançamento do edital Teatro de Formas Anima­­das 2009, que atenderá a seis projetos. Uma parcela dos 50 bonequeiros em atividade no estado, associados à APRTB.

Serviço

Na internet: http://www.abaixoassinado.org/abaixoassinados/4686

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Entrevista com Vera Mussi por Adriane Perin

Discreta, SEEC celebra suas três décadas
Em entrevista, Secretária da Cultura, Vera Mussi, defende-se de críticas e questiona a falta de envolvimento da sociedade como um todo nas questões afins
03/08/09 às 16:48 Adriane Perin



Fachada da sede atual da Secretaria de Estado da Cultura (foto: Divulgação) Em junho de 1979 nascia a Secretaria de Estado da Cultura do Paraná (SEEC), uma das mais antigas em um país que ainda tem cidades sem sequer um Departamento voltado à area. A celebração dos 30 anos será marcada hoje com abertura da exposição de fotografias e objetos em sua sede. Desde seu surgimento, nove pessoas responderam pela pasta. Nos útimos cinco anos, ela está sob os cuidados de Vera Mussi. Historicamente, relegada a planos inferiores, quando o assunto é orçamento, seus índices não conseguem chegar a 1%. Mas a realidade não intimida Vera Mussi - nem as críticas de que não tem voz no Governo e da falta de uma postura mais incisiva. Ela se apega à “ diretriz da valorização da identidade paranaense”, trabalho que se traduz em investimentos no interior do Estado, do qual o Biblioteca Cidadã é o mais citado”. “Não se pode dizer isso de um órgão que investe 300 mil em cada biblioteca e tem o projeto de instalar 300. Não lembro de gestão anterior ter deixado algo assim, em que pese o fato de que não quero diminuir ninguém. Todos tiveram altos e baixos. E a questão orçamentária da Cultura é nacional; o Minc nem com Gilberto Gil conseguiu mais”, defende-se, citando a publicação de cadernos especiais com temáticas da cultura do Paraná – de comidas típicas, passando por festas, chegando a origem dos nomes do munícipios, e os Caminhos Históricos e Lutas. A capital Curitiba, costuma avaliar, “não precisa tanto quanto as cidades menores, porque aqui existe um aparato maior para fomentar e oferecer atividades culturais”. Cita instituições como Fundação Cultural de Curitiba, Goethe, Teatro da Caixa, que mantêm a capital alimentada de cultura. Cuidadosa, garante que isso não significa que a SEEC não olha para a capital, já que mantem seus espaços museológicos, Biblioteca Pùblica, Teatro Guaíra e certames como o Salão Paranaense e de Cerâmica. “É uma gestão que valoriza os municípios e incentiva a criação de secretarias municipais de cultura”, comenta e emenda, na defensiva. “Tanto que hoje os prefeitos visitam a SEEC, o que não acontecia. Mas, tem que ser uma via de duas mãos. A gente dá a biblioteca, mas os administradores têm que, pelo menos, designar uma pessoa para a cultura, já que ter secretaria é mais complicado”, completa. Vera Mussi recebe as críticas de forma tranquila e se protege sob o providencial “nem Jesus conseguiu agradar todo mundo”, enquanto segue enumerando as premiações de cinema, editais de circulação, acervos itinerantes. Observa que está sendo finalizada a Rede Estadual de Cinema, para dar espaços de exibição. Aproveitando o assunto, o Cine Guarani, no Centro Cultural do Portão, teve suas obras atrasadas porque um repasse do Governo Requião foi cancelado: ele pode fazer parte da Rede?. “Nunca existiu acordo nosso com o MUMA ( Museu Metropolitano de Artes), que é da FCC . Mas, se houver interesse da cidade porque não? Veja bem, na área cultural nunca houve nenhuma coloração política .Nunca foi perguntada a tendência partidária dos prefeitos das cidades que receberam algo da Seec”. Em tempo: A assessoria da FCC confirma que havia acordo para repasse de verba do Fundo de Desenvolvimento Urbano, gerenciado pelo Governo do Estado. A Prefeitura então incluiu o MUMA como unidade de interesse de preservação para dar continuidade às obras que estão em execução. Nem a situação do Museu Oscar Niemeyer (MON) incomoda Vera. Diz que é uma Instituição como o Centro Cultural Teatro Guaíra, BBP ou as emissoras Educativas, com orçamentos independentes. “Por força de lei a SEEC, órgão de administração direta, não pode usar leis de incentivo. Quem o faz, contorna a Lei”, fala, sobre Copel e Sanepar apoiarem apenas projetos do MON. Desta forma, também sente-se confortável em passar a bola adiante no caso do Festival Espetacular Teatro de Bonecos, que não teve apoio, mesmo com Lei Rouanet. Questionada sobre a responsabilidade do Governo do Estado de aproximar empresas que aqui pagam impostos de projetos como este, diz que o Governo não se esquivou. “Fizemos cartilha de esclarecimento, mas não tivemos sucesso. Mas, é um equívoco pensar que só o Governo é responsável. Porque grandes federações não fazem seu esforço para atrair o empresariado? A gente via nesses lugares, conversa, explica e continua tudo na mesma”, questiona. Tem na ponta da língua também a resposta que minimiza a inexistência da Lei Estadual de Incentivo a Cultura. Argumenta que “todas as que existem são ilegais”.”O próprio governo anterior provocou a inconstitucionalidade. Estamos trabalhando no Fundo Estadual, que consideramos alternativa melhor. Vejo chances de que se concretize neste governo”, avalia.